GOVERNO ASSUME INÍCIO DO FECHO DA CENTRAL DE SÃO TORPES EM 2023
A Câmara de Sines só tomará uma posição sobre a data do encerramento da central de carvão após encontro com o secretário de Estado da Energia. É o equipamento que mais eletricidade produz e também o mais poluidor do país. Salvaguarda dos postos de trabalho é fundamental para o autarca socialista.
TEXTO JOSÉ BENTO AMARO IMAGEM DR
Polui muito, mas rende igualmente muito dinheiro. Trata-se da Central Termoelétrica de São Torpes, Sines que, obrigatoriamente de acordo com o compromisso assumido por Portugal na União Europeia (UE), terá de encerrar até 2030, mas que as organizações ambientalistas querem ver fechada até 2023. Em causa, para além de cerca de 350 postos de trabalho diretos e indiretos, parecem também estar muitos milhões de euros. A Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos realizou, há dois anos, um estudo em que afiançava ganhos de 950 milhões de euros até 2025 caso as instalações se mantivessem abertas. Este montante, deduzidos impostos, poderá dar um rendimento total líquido de 669 milhões.
A central de carvão de São Torpes, assim como a congénere do Pego (Abrantes) já viu a sua “extinção” confirmada pelo primeiro-ministro, António Costa. Os dois equipamentos deverão ser substituídos por outros menos poluentes, com origem no gás natural. Já depois da tomada de posse do novo Governo, mais concretamente a 21 de outubro, Costa fez declarações públicas acerca das duas centrais e garantiu que o estado está disponível para encerrar o Pego em 2021 e São Torpes num período que irá decorrer por fases, entre 2023 e 2025. A central de Sines, que continua a ser responsável por cerca de 20 por cento de toda a energia elétrica produzida em Portugal, é considerada, entre as mais de 300 centrais a carvão que ainda laboram no espaço da UE, como a 22ª mais poluente, tendo sido responsável em 2018 pela emissão de 7,4 milhões de toneladas de CO2. O Pego libertou para a atmosfera, no mesmo período, 2,8 milhões de toneladas de gases com efeito de estufa.
Autarca de Sines pretende salvaguardar postos de trabalho
O Semmais contactou o presidente da Câmara Municipal de Sines (concelho que alberga dois dos principais polos poluidores do país – Termoelétrica de Sines, em primeiro lugar, e o porto, em terceiro, sendo que o segundo foco é a Termoelétrica do Pego), Nuno Mascarenhas, que para já, não pretende tomar qualquer posição definitiva em relação aos projetos da EDP, do Governo ou das associações ambientalistas. “Esta semana (na passada segunda-feira) foi pedida uma reunião com o secretário de Estado da Energia, João Galamba. Só depois da mesma se ter realizado é que a Câmara de Sines poderá adiantar algo mais acerca do processo”, disse. Nuno Mascarenhas salientou, no entanto, que o município pretende sempre tomar em consideração a salvaguarda “dos trabalhadores e das empresas que labutam em redor” da termoelétrica. A central de São Torpes emprega atualmente cerca de 250 pessoas, existindo também mais 100 que laboram diretamente no porto onde é descarregado o carvão que ali é queimado. Os empregos de alguns destes trabalhadores podem, eventualmente, ser extintos. É certo, no entanto, que quando fechar este equipamento, concebido e construído na década de 1980, outro deverá nascer no concelho sineense, sendo expectável que venha a empregar uma parte significativa dos atuais operários ou de outros residentes na região.
O desmantelado da central de São Torpes, ainda de acordo com os estudos da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos custava, há dois anos, cerca de 73 milhões de euros.
________________________________________________________________________
Sindicalistas vão pedir explicações ao Governo
O Sindicato das Indústrias, Energias e Águas de Portugal (SIEAP) fez um alerta para os “problemas sociais graves” que a cessação da produção da Central de Sines em 2023 poderá causar na região e vai pedir esclarecimentos ao Governo.
Em comunicado difundido pela Lusa, o SIEAP diz que concorda com a descarbonização da economia, mas opõe-se a “que sejam criados outros problemas sociais graves sobre os trabalhadores e suas famílias”.
“Causa-nos muita estranheza o anúncio do primeiro-ministro sem que anteriormente tenham sido contactados os trabalhadores e sem terem atenção ao impacto social que vai causar nesta área geográfica do país”, afirmou o sindicalista Cláudio Santiago.
Defendendo que “a melhoria do ambiente é compatível com a melhoria da vida das pessoas”, o sindicato, que está preocupado com os “direitos dos trabalhadores da EDP e das empresas subcontratadas”, diz que vai trabalhar para “tentar mitigar os impactos que vão resultar desta intenção”.
Segundo o dirigente do SIEAP, que estranha o silêncio da EDP Produção, a decisão vai afetar sobretudo os trabalhadores das empresas subcontratadas, uma vez que, no caso dos trabalhadores da EDP, não se está “a falar do desemprego, mas sim de uma recolocação”.