EDITORIAL
Raul Tavares
Diretor
OS CRIMES de abuso sexual e pornografia infantil voltaram ao cimo da mesa por uma razão muito simples: o fenómeno é imparável e, tal como a violência doméstica, é uma vergonha nacional.
Os números impressionam, e no que diz respeito à nossa região, são ainda mais acintosos, porque nos colocam na pegada das duas grandes metrópoles do país, Lisboa e Porto.
Há, nesta cruzada, muitas variáveis que importa dissecar, e que não cabem neste pequeno pedaço de papel. O papel da família, que se tem esvaziado, a cultura educacional, que se detém numa imensidão de outras prioridades, a justiça de mão leve e a escassez de meios com que a judiciária e outras forças policiais combate este flagelo.
Tal como em outras linhas civilizacionais que estão um pouco ao “deus-dará”, este problema tem que começar a ser olhado de forma mais abrangente e a vários níveis de atuação. Desde logo, a prevenção, o primeiro passo para cortar as linhas desta vergonha nacional. Mas olhando os números, e balizando a questão essencial da presunção de inocência, constata-se que de tanto alegado crime, apenas um ínfimo número de arguidos chega às barras do tribunal e à penalização, sendo que esta apresenta uma moldura penal de Pirro.
Na verdade, e perante a dimensão que nos entra pelos olhos dentro, parece que andamos todos a fingir que é tudo normal. Não, o abuso de menores não é, nem pode ser, uma situação normal. É um dos crimes mais aviltantes e uma situação que nos deixa perto do submundo nesta civilização de loucos, onde quase tudo se pode fazer, assim, quase às claras, perante uma opinião pública que, aqui e ali, vai aceitando, por inação, tormentos deste tipo.