ALARGAMENTO DA ÉPOCA BALNEAR EVITARIA CONDICIONALISMOS NA GESTÃO DE MEIOS
Associações e concessionários de praia estão «prontos» para o arranque da época balnear apesar das dificuldades com que se deparam, ano após ano. A legislação para contratar nadadores está «ultrapassada» e a limitação temporal da época balnear é «desadequada». Em Almada já há um projeto piloto que alarga o período de vigilância.
TEXTO ELOÍSA SILVA IMAGENS SEAGULL Rescue
A época balnear arranca entre 15 e 22 de junho e, nas praias, tudo tem de estar pronto para receber os milhares de veraneantes que escolhem o nosso distrito como destino de férias. Apesar de haver garantias de que «a qualidade do apoio e salvamento é a melhor possível», segundo Nuno Gomes, da associação SEAGULL Rescue, em Melides, Grândola, «os problemas e constrangimentos são os mesmos de sempre».
A segurança dos banhistas continua a ser a maior preocupação das associações de nadadores salvadores, e dos concessionários de praia, que pedem «alteração à legislação», para contratar mais nadadores e «a possibilidade de poder fazê-lo fora da época balnear», insiste Nuno Gomes para quem a legislação está «ultrapassada».
Uma alteração relevante tendo em conta que, no ano passado, morreram nas praias portuguesas 117 pessoas. 65 fora da época balnear. No distrito de Setúbal há a lamentar o óbito de 12 pessoas. Três, entre março e abril, uma em outubro e as restantes durante o verão.
Os dados constam do relatório nacional de afogamentos, elaborado pela Federação Nacional de Nadadores Salvadores, que preocupa os concessionários que têm que executar as normas definidas pela Autoridade Marítima, no que concerne aos apoios de praia e segurança.
Mais brasileiros no socorro e vigilância
Acácio Bernardo, presidente da associação de concessionários da frente urbana da Costa de Caparica, à semelhança de António Mestre, em Sines, tiveram que recorrer a uma plataforma do ISN, para contratar nadadores para este ano. «Não há gente disponível e o facto de não terem a função definida como profissão, afasta os jovens deste trabalho» que, na moldura atual só os ocupa durante quatro meses ao ano. «E os restantes meses fazem o quê?», questiona Acácio.
António Mestre, da associação sineense RESGATE corrobora. «De há uns anos a esta parte, nota-se um crescente desinteresse por parte dos jovens nesta atividade sazonal. Penso que isto se deve à forma como se paga e como se contrata», reconhece.
Daí ambos terem recorrido à plataforma do Instituto de Socorros a Náufragos, através da ABRASVIC, uma associação de resgate e salvamento aquático, composta por militares e civis, onde os detentores do curso de nadador salvador se inscrevem e aguardam para suprir as necessidades das associações e concessionários. Sendo uma empresa certificada no Brasil e em Portugal a maioria dos operacionais aí requisitados são de origem brasileira.
Em Grândola a SEAGULL admite ter de prontidão cerca de 80 jovens a vigiar os areais das praias da região. Número que podia ser superior se, entre outros aspetos contratuais, «não retirassem benefícios aos jovens que querem desempenhar esta função. Os estudantes universitários com bolsa de estudo perdem, automaticamente, a bolsa se se inscreverem para trabalhar no verão», lamenta Nuno Gomes. Além de haver «um esforço notório dos concessionários» as condições de trabalho «não são apelativas, os materiais que usamos estão obsoletos e os jovens tendem a não se mostrar disponíveis », acrescenta.
Temperaturas elevadas requerem alteração de procedimentos
O, também, responsável da Associação de Nadadores Salvadores da Frente Atlântica da Costa de Caparica, Acácio Bernardo, que conta este ano com um efetivo de quase 30 profissionais, uma moto 4 e uma moto de água, vê passar pelas praias do concelho «8 milhões de pessoas por ano» e reconhece-lhes os hábitos. «As temperaturas estão a mudar, e as rotinas das pessoas também. É essencial que as leis se alterem e passem a prever a existência de nadadores salvadores nas praias todo o ano», vinca.
Uma alteração que na sua área de atuação, Almada, até já começou a ser implementada. Apesar de «condenar» a ação de entidades com a Agência Portuguesa do Ambiente, que «desde 2015 não retomou o processo de colocação de areia nas nossas praias, deixando-nos a braços com um problema grave de erosão», elogia a autarquia de Almada que «está a ser inovadora a nível distrital na vigilância das praias».
«Houve um entendimento com os concessionários, apesar de nem todos terem as mesmas obrigações legais, para que haja vigilância nas praias aos fins de semana e feriados, nos meses de maio e outubro». E os resultados «são positivos».
É por iniciativas como esta que Acácio Bernardo acredita que deviam ser as câmaras a ter a gestão das praias.
«Há mais proximidade. O poder local conhece melhor a realidade do território e é mais fácil delinear estratégias com os autarcas. Já se fala, no âmbito da transferência de competências da passagem da matéria para a alçada das autarquias e penso que isso viria ajudar a resolver muitos dos problemas com que nos deparamos atualmente».
Profissionais não se cansam de difundir conselhos
A nadadora salvadora Maria Marques, que no dia da passagem da depressão “Miguel” pelo território nacional já estava no seu posto de trabalho ficando sujeita às «condições difíceis de trabalho, sem ter onde me abrigar da chuva e do vento», fez questão de enumerar alguns dos conselhos mais importantes a considerar a partir desta semana e, se as condições climatéricas assim o ditarem, durante o resto do ano.
“É importante respeitar o tipo de bandeira hasteada, assim como cumprir as indicações dos nadadores salvadores. Não se deve desvalorizar o uso do protetor solar, aplicando-o várias vezes ao dia. Deve-se evitar a exposição ao sol de crianças e idosos nas horas de mais calor. Os utentes devem escolher praias vigiadas em vez de praias não vigiadas. Devem respeitar as horas de digestão, se pretendem estar na praia, devem ingerir refeições leves, ou então esperar que a digestão seja feita. Ter cuidado com o sítio onde se mergulha, verificando sempre a profundidade”.



