E tem a Festa marcada para 4, 5 e 6 de Setembro: é mesmo em 2020!

CULTURA E POLÍTICA
Valdemar Santos
Militante do PCP

PORQUE a problemática da caracterização da classe operária nos dias de hoje foi já, no início deste século (imagine-se!), objecto de um artigo do jornalista Bernardo Joffily, cujo título era precisamente “O proletariado do século XXI – roteiro para um estudo”, publicado em 2002 na Revista “Princípios” do Partido Comunista do Brasil, resta-nos remetermos para o Avante!, o órgão central do PCP, a culpa de não arredarmos pé.
Mas vamos por partes, as quais, em parte também, como retoma.
Partindo da evidência de que “a conformação actual da classe dos modernos trabalhadores assalariados exige a investigação concreta da realidade”, Joffily estruturava o seu texto arrancando da descrição da “saga histórica do proletariado” até à “actual crise da classe”, chegando à noção de “um proletariado expandido”: “A força de trabalho que o capital contrata pode estar espalhada por incontáveis estabelecimentos, empresas, cidades e países, submetida a relações contratuais muito distintas, mas nem por isso deixa de formar, no fundo, uma classe única e crescentemente fundida no conteúdo da sua condição de antípoda da burguesia.
Nesta esfera, nem sempre evidente, mas, em última instância decisiva, a tendência à polarização crescente da sociedade burguesa, apontada no Manifesto Comunista, mantém integral actualidade”. E sobre “o proletariado expandido”, rematava: “seus contornos ainda não estão inteiramente dados.
A própria velocidade de expansão, assim como as vitórias da burguesia no apagar das luzes do século passado, contribuem para retardar o amadurecimento da sua identidade de classe.
No entanto, se o ser social determina a consciência social, mais dia, menos dia esta identidade mais há-de emergir da prática social contemporânea”.
A pertinência deste documento não deixa de continuar a aferir-se numa região como a de Setúbal, palco de uma forte luta de classes, porquanto a destruição sistemática do aparelho produtivo, através do encerramento de empresas e da entrega de sectores estratégicos da economia nacional ao capital privado de que resultam, numa lógica de rentabilização capitalista, as chamadas reestruturações, se diminuiu a concentração operária nos moldes históricos do século passado não volatizou o operariado como classe nem as tradições de luta que, de há decénios, fizeram história no Portugal de antes e depois do 25 de Abril, indissociável do papel do PCP e dos seus valores.
Ora foi no início do ano já citado, leituras transatlânticas por fazer, que entre as 7.30 e as 8 horas de certo alvorecer, no acesso a uma empresa metalúrgica à beira-rio, uma brigada de militantes do PCP vendia uma edição do Avante! num confronto singular sem ganhadores nem perdedores, onde cinco trabalhadores confessaram: “Não posso comprar porque me arrisco a ser despedido!”, mas onde outros quatro, numa mescla de crispações, arriscaram: “Compro, mas posso vir a ser posto no olho da rua!”.
Na brigada quiçá nem todos não teriam a dificuldade de perceber a razão pela qual tanto custa por vezes mobilizar trabalhadores para a luta e mesmo militantes comunistas para a acção. Mas o brilho dos olhos renasceria sempre no colectivo partidário, porquanto, mesmo naquelas condições, dos 72 operários que pegavam ao trabalho 21 (contas feitas, mais ou menos 30% dos abordados) compraram o orgão central do PCP.
Eles tinham estado na Siderurgia, na Quimigal, na Lisnave, na Setenave, na Mague, na Mompor, na Equimetal, na Cometna, na indústria automóvel, noutros tantos palcos da luta. Como escrevemos na altura, parecia prevalecer ali um silêncio, é certo, mas ecoava.

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